NEM PRETOS. NEM BRANCOS. NEM ÍNDIOS: MESTIÇOS.
Gilberto Freyre.
Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo (...] a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.
a afirmação, na época, representou profunda ruptura em muitos estudos que viam na mestiçagem um fator de atraso, Gilberto Freyre (1900-1987), pelo contrário, dizia-se "um maníaco da miscigenação".
O marco foi Casa grande e Cenzala (1933). Alguns consideraram-na pornográfica. Outros, genial. Monteiro Lobato: "Outra coisa não fez Gilberto Freyre senão de outro modo."
O centro da obra é o Nordeste da cana-de-açúcar, de famílias patriarcais "de muito maior número de bastardos", filhos dos senhores com índias e escravas. Relata miudezas: culinária,vestimenta, higiene.
Recebe críticas: mostra uma acomodação um tanto harmoniosa entre índios, negros e brancos, relegando a segundo plano a opressão que existia nessa relação.
TRECHOS
O PORTUGUÊS: (...) já de si melancólico, deu no Brasil para sarumbático, tristonho...
A ÍNDIA: Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. a higiene do corpo. O milho. O cajú. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, remete a influencia de tão remoteas avós...
O NEGRO: Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera da vida, trazemos quase todos a marca da influência negra.
ERRO DE PORTUGUÊS.
(Oswaldo de Andradre).
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Fonte: Brasil, Almanaque de cultura Popular.
ANO 8.
Nº 90.
Outubro - 2006.